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O Open Banking é a nova palavra do vocabulário financeiro que, em breve, pode mudar o mercado drasticamente ao abrir a janela para novas possibilidades para o consumidor e, sobretudo, para os bancos e instituições financeiras. Com a nova regra, os jogadores do campo devem se comportar de maneira diferente – e quem já aderiu aos formatos digitais deve ganhar mais competitividade.
Em suma, o Open Banking permite que bancos e instituições financeiras compartilhem os dados dos clientes entre si, desde que os mesmos ofereçam seu aval. A partir do momento que essa regra passar a valer, as fintechs, players que jogam em um mercado mais nichado e direcionado (com público-alvo mais restrito) devem ter acesso imediato a um volume alto de informações, antes restrito aos bancos tradicionais.
Isso deve dar maior fôlego para os bancos digitais, como o Nubank, que já têm crescido forte nos últimos anos. Um relatório divulgado no primeiro semestre pela XP, por exemplo, estimou que o banco digital poderá superar o Banco do Brasil (BBAS3) em número de clientes em 2023, quando completará o seu 10º ano de vida.
De acordo com um levantamento do UBS, os bancos digitais passaram a representar 52% de todos os downloads de aplicativos de instituições financeiras em 2020. Esse percentual era de 2% em 2015.
Por outro lado, os "bancões" passam a ter conhecimento sobre dados mais nichados de seus clientes. Por exemplo, um cliente que tenha contas no Banco do Brasil e no C6 Bank, e invista apenas no segundo, poderá ser melhor compreendido pelo banco público do que é atualmente.
Com isso, os especialistas acreditam que os bancos tradicionais vão continuar a acelerar a sua digitalização, aumentando os investimentos em tecnologia e segurança da informação e, sobretudo, mudar a forma como ofertam seus produtos – deixando de concentrar suas ofertas em financiamentos de casas ou veículos e cheque especial a uma gama ampla de clientes.
"É o momento do consumidor. Porque o open banking trabalha com o conceito de que cada pessoa é dona dos seus dados, então ela pode fazer o que quiser com as suas informações, migrando de bancos ou usando o melhor de cada instituição", afirma José Luiz Rodrigues, especialista em regulação da JL Rodrigues & Consultores Associados.
"Por exemplo, ela vê que o banco x é melhor em crédito, que o y oferece melhores investimentos e o z foca na previdência privada, e isso faz com que ela monte a carteira de serviços que vai utilizar, integrando os três. É o consumidor construindo o banco que quiser."
Assim, a regra compõe a agenda do Banco Central (BC) de modernizar o panorama econômico e financeiro do país e também acirra a competitividade no setor, que já mudou drasticamente com a entrada de players como o Nubank, o C6 e o Inter (BIDI11). Assim como o Pix, o mecanismo deve, no fim das contas, "dar mais lucro ao consumidor".
"Um bom cliente que é bom deve ter benefícios, e os bancos começarão a tratar diferente esse tipo de cliente, reduzindo taxas. Um cliente que não é inadimplente, que é um bom pagador, terá mais vantagens do que um outro que é negativado. Teremos também um maior apetite ao risco, já que temos bancos que cobram taxas maiores por conta dos inadimplentes", analisa a Diretora da corretora Getmoney, Vanessa Blum.
Com essa mudança no tratamento aos clientes, o crédito deve ser mais acessível e mais amplo, já que as análises, que antes eram mais cautelosas, tendem a ser mais dinâmicas com um volume de dados ainda maior.
"Com essa troca grande de informação, a capilaridade de crédito, tanto de empresas quanto de pessoa física, torna-se muito maior. A taxa de default será menor, e o mais importante, o pricing de crédito deve diminuir , e você será mais assertivo. É benéfico para todo mundo", analisa Bruno Braz, head de produtos do Stark Bank.
O banco em questão, que oferece contas digitais para empresas de alta performance, cita que os investimentos em tecnologia devem escalar – e justamente eles são, também, os responsáveis para o crescimento de companhias financeiras, considerando o panorama futuro, que é impulsionado pelo Pix, pelo Open Banking e demais ferramentas.
“O ser humano precisa pensar, não fazer trabalhos repetitivos. A parte tecnológica, de APIs e afins dará escalabilidade. Sentimos isso já na pandemia, de players mudando para uma solução tecnológica e robusta, com emissão de boletos. Esse período reforçou uma onda de novas fases, e nós vemos isso com bons olhos”, comenta, dando exemplos de empresas clientes do banco, como a Buser, a Loft e a Guiabolso, que esteve no centro de uma das transações que demonstra a mudança acontecendo.
Ainda na última semana, na sexta (23), o PicPay anunciou a compra de 100% do Guiabolso, com o pagamento em dinheiro e ações. Com a transação, a fintech mira justamente adiantar-se neste panorama, que deve ser ainda mais competitivo.
Na ocasião, o vice-presidente de serviços financeiros do PicPay, Eduardo Chedid, disse que a aquisição irá posicionar a fintech como "protagonista do open banking".
Mas a compra do Guiabolso está longe de ser algo isolado no mercado, que tem passado por um forte movimento de aquisições e busca por inovação. Confira alguns exemplos que se destacaram nos últimos tempos:
Segundo uma pesquisa da Transactional Track Record, o setor de finanças e seguros foi o segundo que mais realizou fusões e aquisições em 2021, com 170 transações. Neste mercado, o BTG lidera o ranking, com 25 operações calculadas em R$ 90,4 milhões. Em segundo lugar está o Itaú BBA, com 15 operações que somam R$ 61,9 milhões.
Na toada da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), as empresas devem reforçar razoavelmente a sua arquitetura de segurança. Braz, do Stark Bank, fala que uma parte desse movimento também deve vir de uma agenda de "evangelizar" o usuário explicando que o mercado já é avançado no quesito e não apresenta riscos.
"O regulador já fez muita coisa, as instituições já se protegem, e não vemos invasões e afins. Onde está o elo mais fraco é no usuário, na ponta. Ele precisa de mais informação. O mercado precisa trabalhar isso de uma forma geral para cada vez educar mais o usuário", analisa também o Especialista em Novas Plataformas da TecBan, Rogerio Melfi.
Braz, do Stark Bank, também cita que há grande expectativa da empresa no avanço da agenda, considerada essencial para um avanço tecnológico no segmento financeiro. As expectativas, contudo, ficaram retidas por ora, já que o BC adiou a segunda fase de implementação, que deve iniciar, de fato o compartilhamento de dados.
"O Open Banking é uma medida de longo prazo e prioritária na Agenda BC#, que visa definir as condições para o sistema financeiro do futuro, mediante a criação de novos canais de comunicação e de acesso a serviços financeiros, de forma a garantir uma jornada digital para o consumidor que seja segura, ágil, efetiva e conveniente", disse o BC, em nota.
Na primeira fase, o programa do BC começa com as instituições participantes disponibilizando ao público informações padronizadas sobre os seus canais. Já no segunda os clientes, se quiserem, poderão solicitar o compartilhamento entre instituições participantes de seus dados cadastrais.
Depois disso, na terceira fase, surge a possibilidade de compartilhamento dos serviços de iniciação de transações de pagamento e de encaminhamento de proposta de operação de crédito.
Já na quarta fase do Open Banking, dados sobre outros serviços financeiros passam a fazer parte do escopo. Assim, amplia-se ainda mais a possibilidade de surgimento de novas soluções para a oferta e a contração de produtos e serviços financeiros, mais integrados e personalizados.