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Desta vez não houve vozes discordantes, nem entre os economistas de mercado, nem entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom). Conforme esperado pelo mercado, o Banco Central (BC) manteve ontem, por unanimidade, a taxa básica de juros da economia em 7,25%, o menor patamar da história. A manutenção da taxa interrompeu a sucessão de 10 cortes seguidos na Selic, promovidos pelo Copom a partir de agosto de 2011. Mesmo tendo interrompido a queda, com a inflação girando em torno de 5,5% ao ano, a taxa de juros real do país está abaixo de 2% ao ano, o que é também um recorde.
No comunicado em que tenta explicar resumidamente a decisão, o Copom alegou que “considerando o balanço de riscos para a inflação, a recuperação da atividade doméstica e a complexidade que envolve o ambiente internacional, o Comitê entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear”.
Europa
Não poderia ser diferente, na avaliação do economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, pois o cenário externo não está tranquilo. O alívio com o acordo para a Grécia é passageiro. Ninguém no mercado acredita que seja o início de uma recuperação para o país. Para José Francisco a política econômica adotada como remédio em 2010 pelo conjunto crescente de países com problemas de conta corrente, dívida soberana e risco bancário em alta criou desemprego, reduziu a atividade e lançou diversos países na recessão. “Isso arrastou a Zona do Euro pelo mesmo caminho, sem reduzir a dívida pública, sem reduzir os juros a níveis pagáveis, sem ajudar em nada a erradicação dos desequilíbrios em conta corrente”, afiançou.
Vem do cenário externo a convicção dos economistas de que perdurará por muito tempo ainda fortes obstáculos a um crescimento maior para a maioria dos países do mundo, parceiros comerciais do Brasil. Por isso Eduardo Velho, economista-chefe da Planner Corretora, vê a possibilidade de nova redução da taxa básica de juros, de pelo menos 0,25 ponto percentual, entre o fim de 2013 e o início de 2014. “Eu diria que, hoje, essa possibilidade é de 40%”, avaliou.
O problema com a taxa básica nesse patamar, mesmo com o baixo crescimento da economia, é a inflação. Para conter a escalada dos preços, segundo Samy Dana, professor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (SP), será preciso promover reforma tributária e investir em infraestrutura e transporte.
Para o economista Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco WestLB do Brasil, a opção por manter os juros inalterados foi coerente com as indicações dadas pelo próprio Copom que, na ata da reunião anterior, afirmou que “a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear”. O novo comunicado é idêntico.
Postura conservadora
Segundo o economista, o cenário externo ainda se apresenta envolto por elevado nível de incerteza e a crise de dívida na Europa figura como o principal fator de risco. “O fato de os juros já se encontrarem em patamares mínimos históricos justifica uma postura mais conservadora por parte do BC neste momento, uma vez que a economia apresenta sinais, ainda que incipientes, de recuperação”, observou.
De acordo com o economista o governo mudou o mix de política econômica, passando a adotar incentivos fiscais e creditícios e uma política cambial que aparentemente busca gradualmente elevar a banda de negociação da moeda nacional frente ao dólar. Tudo isso, na avaliação de Rostagno, diminui o espaço para o estímulo monetário. “Prevemos que a economia estará crescendo a uma taxa consistentemente acima do seu potencial em meados do ano que vem, o que trará pressões inflacionárias e questionamentos acerca da viabilidade de manter a taxa de juros inalterada até o final de 2013”, disse.
» Baixo rendimento
Com a taxa de juros em patamares mínimos, vai ser difícil para os investidores obterem altos rendimentos nas suas aplicações. Para quem tem dinheiro para investir, o professor da Fundação Getulio Vargas, Samy Dana, aconselha a poupança. “Para aplicações interiores a seis meses, a poupança é a melhor opção devido à isenção de IR. Para prazos maiores de seis meses, títulos do tesouro indexados a Selic (LFT) ou ao IPCA (NTN-B) são interessantes. Outra dica é investir em bancos renomados que oferecem mais que 95% do CDI”.
» Inadimplência de empresas sobe
Em outubro, a inadimplência das empresas cresceu 13,8% em relação a setembro, de acordo com o indicador da Serasa Experian. Também houve aumento de 13,8% na comparação entre outubro deste ano e o mesmo mês de 2011. Para os economistas da Serasa Experian, a maior alta mensal do ano, na comparação de outubro frente a setembro, foi influenciada pelo efeito-calendário, em razão do maior número de dias úteis no décimo mês do ano. O impacto foi sobretudo nos protestos e os cheques sem fundos, que são registrados em dias úteis. Além disso, a alta de outubro ocorreu sobre uma base fraca, de setembro, o que reduz sua relevância. A inadimplência nas dívidas não bancárias e bancárias, que não tem impacto do efeito-calendário, subiu pouco em outubro: 0,7% e 0,4%, respectivamente.