Whatsapp(11)96994-2019
A inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), está desacelerando mês a mês – o que não significa que os consumidores devem deixar de apertar o cinto e abandonar o planejamento financeiro. Ao contrário, especialistas ouvidos pelo InfoMoney alertam que a taxa ainda está alta e corrói o poder de compra das famílias.
Segundo os dados divulgados nesta terça-feira (7), em maio, os preços de serviços e produtos de diversas categorias de consumo subiram 0,47%, frente a uma alta de 0,77% de abril. Dessa forma, houve desaceleração da inflação e não queda dos preços. Pode não parecer, mas esses aumentos, ainda que cada vez menores, são nocivos para o orçamento de muitas famílias.
Esse queda da capacidade de compra dos consumidores fica mais clara quando se analisa a inflação acumulada do ano e dos últimos 12 meses. Neste ano, até maio, o aumento foi de 3,71% e, nos últimos 12 meses, de 6,55% - percentual que já supera o teto da meta para este ano, de 6,5%. “O consumidor deve manter a cautela, porque a inflação perdeu a velocidade, mas ainda está muito elevada”, alerta o professor de economia da FGV-EAESP, Evaldo Alves.
Inflação de demanda
Para o professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, é possível que a inflação brasileira encerre o ano entre 6% e 6,5%. E, diferente do que ocorreu no ano passado, os alimentos não serão os grandes vilões. Neste ano, as altas sucessivas dos combustíveis foram as que mais influenciaram no aumento da inflação. Agora, com a safra de cana-de-açúcar garantindo o abastecimento para o consumidor, os preços começam a cair. Tanto que foram os combustíveis que garantiram a desaceleração da inflação em maio.
"Os alimentos não vão subir muito mais e a tendência é a de que haja uma estabilidade dos preços dos combustíveis. A partir de setembro é possível um aumento mais intenso dos alimentos e combustíveis, sem contar o reajuste de alguns preços administrados", avalia Leite, que alerta: "tudo isso não significa um recuo da inflação, ela ainda está alta".
O professor de economia da Veris Faculdades, Paulo de Tarso da Silva Santos, também alerta para a cautela do consumidor, embora avalie que a inflação, frente a períodos anteriores da história recente do País, esteja controlada. "A inflação é um problema para qualquer país. Mas é impossível se desenvolver sem alguma taxa de inflação, que está mais estabilizada do que nunca", afirma. "Sob o ponto de vista do consumidor, é sempre um problema", ressalta.
A movimentação da taxa inflacionária, na avaliação do professor, é mais um argumento que se dissemina para justificar os aumentos dos juros. "A inflação hoje é pontual e está sim relacionada ao aumento da demanda, como consequência do aumento da renda, mas ela é mais um instrumento para viabilizar os aumentos dos juros, porque essa é a medida adotada quando se tem inflação por demanda", explica Santos. Diante desse cenário, dizem os especialistas, ainda um tanto incerto, vale a cautela na hora de consumir.
Sem abondonar bons hábitos
A inflação, principalmente aos níveis verificados em 2010, mudou alguns hábitos de alguns brasileiros que, cautelosos em perder poder de compra, passaram a pesquisar mais e a buscar alternativas na hora de comprar. E as notícias de desaceleração dos preços não podem fazer com que eles abandonem comportamentos que passaram a adotar.
"Para proteger a renda mensal é fundamental comparar preços. A inflação ainda está aí e essa prática simples é relevante porque, além de os preços oscilarem ao longo do tempo, também há disparidades entre as lojas", reforça Alves, da FGV. Ele aconselha os consumidores que evitem financiamentos de longo prazo.
Nesse caso, Leite, da Trevisan, ainda atenta para outro fator que, com a inflação, mina o orçamento das famílias: os juros. "O problema maior das compras a prazo é o juro", reforça. Por isso, evite tomar crédito e aguarde por um melhor momento para consumir bens mais caros. "Não caia na tentação de comprar a prazo bens não duráveis, como alimentos e bebidas", acredita Alves.
O economista alerta que, se for inevitável comprar a prazo, que o valor das prestações nunca ultrapasse os 30% do orçamento, e que o prazo não ultrapasse os 12 meses. "O consumidor precisa criar uma cultura de cautela e controlar impulsos", reforça Santos, da Veris. "Não há qualquer risco de hiperinflação, mas é preciso que o Banco Central também atente para que a inflação não saia do controle", afirma Alves.