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O assunto profissionalização está sendo cada vez mais discutido dentro das empresas familiares. No entanto, são poucas as organizações que realmente compreendem todos os aspectos relacionados com a profissionalização de uma empresa familiar.
Nas empresas familiares, o processo de profissionalização enfrenta muita dificuldade, pois envolve temas como a seleção das pessoas, a avaliação, a promoção, o sistema de remuneração, a dispensa de funcionários, dentre muitas outras. Estas atividades se tornam ainda mais complicadas quando se tratam de membros da família que trabalham na empresa.
É evidente que profissionalizar a empresa não significa apenas abolir os termos “pai”, “filho” ou “querida” nas relações entre os familiares que atuam na empresa, substituindo-os pelo nome próprio de cada pessoa. No entanto, em algumas sociedades familiares, a profissionalização se limita a essas mudanças.
A ausência de profissionalização causa diversos problemas, entre eles, a desmotivação de funcionários que poderiam colaborar com a empresa, mas acabam se desligando, com o intuito de alcançar outras oportunidades no mercado de trabalho, podendo inclusive ser uma empresa concorrente, ou ainda, o aparecimento dos “feudos”, que são grupos formados por membros da família e colaboradores leais, que gerenciam uma unidade ou uma parte da empresa como se esta fosse totalmente independente das demais unidades da organização.
Indiscutivelmente, a profissionalização é essencial para as empresas que desejam perpetuar-se. Neste sentido, a profissionalização de uma empresa familiar deve ser completa, ou seja, devem ser observadas três perspectivas: a profissionalização dos gestores, a profissionalização dos familiares e a profissionalização dos sócios.
A primeira etapa – profissionalização de gestores - é a mais conhecida de todos e geralmente a única abordada quando se trata de profissionalização. Na prática, consiste na contratação de executivos comprovadamente competentes para ocupar cargos importantes no seu organograma, envolvendo regras de contratação, fundamentadas na necessidade de profissionais para desempenhar determinada função, políticas de remuneração equiparadas ao cargo e equivalente às praticadas no mercado e avaliação pelo desempenho.
O segundo aspecto da profissionalização de uma empresa familiar envolve a profissionalização dos familiares. Com base na definição da profissionalização dos gestores acima descrita, pode-se deduzir que os familiares terão liberdade de escolher a carreira que desejarem, que poderá ou não ser na empresa da família. Esta escolha deve ser baseada nas aptidões e vocações de cada pessoa e deve contar com o apoio da família. Permitir e colaborar para que um familiar desempenhe tenha uma carreira profissional é o segundo contexto da profissionalização.
O terceiro tópico da profissionalização de uma empresa familiar envolve a profissionalização dos sócios, já que os herdeiros, independente da profissão que desejarem seguir, serão membros de uma mesma sociedade, e como sócios, devem estar preparados para este papel, especialmente pelo fato desta sociedade representar uma parcela significativa do patrimônio de cada herdeiro, na qual ele fará jus ao recebimento de dividendos e outros direitos. Fazer comque cada sócio conheça os limites dos seus direitos, seus deveres, e que adote uma postura de sócio profissional é essencial para uma completa profissionalização de uma empresa familiar.
É importante ressaltar que os herdeiros de uma sociedade familiar não se escolheram como sócios, mas se tornaram sócios devido a herança deixada por seus pais. Este relacionamento entre sócios é muito diferente do existente entre os fundadores, que se escolheram como sócios baseados em diversos motivos, como afinidade, competências complementares, e outras. Por este motivo, é necessário que seja desenvolvido um trabalho de profissionalização de sócios em uma empresa familiar.
A profissionalização costuma enfrentar muita resistência, já que implica em modificações profundas no relacionamento das pessoas que atuam na empresa. Resistência essa proveniente de alguns profissionais que estão acostumados com um sistema sem hierarquia definida e gozam de certa liberalidade, motivo pelo qual desejam manter o status quo, assim como por familiares que costumam desfrutar de privilégios.
Todavia, a profissionalização, nos seus três aspectos, deve ser considerada um instrumento essencial para o sucesso das empresas familiares.
* Pedro Podboi Adachi é consultor de empresas familiares e sócio-diretor da Societàs Consultoria