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Fernando Travaglini
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve promover hoje mais uma redução da Selic, levando a taxa básica para o patamar inferior a 9% ao ano. Esse movimento pode encerrar o atual ciclo de afrouxamento monetário, mas os juros bancários ainda devem recuar por mais alguns meses. Desde janeiro, o comitê já cortou 4,5 pontos percentuais, levando a Selic de 13,75% ao ano para os atuais 9,25% ao ano. Nesse período, os bancos cortaram em média mais de 10 pontos percentuais do juro bancário para as pessoas físicas.
A taxa média do financiamento ao consumo recuou de 57,9% ao ano, no início de janeiro, para 47,3% ao ano, em maio, de acordo com dados do BC. No crédito pessoal, essa redução foi ainda mais acentuada. Os juros médios caíram de 60,4% para 46,6% ao ano, corte de 13,8 pontos.
Em junho, novas reduções já foram registradas por pesquisas de entidades como Anefac e Procon de São Paulo, mostrando recuperação em relação aos níveis pré-crise. Segundo o Procon, a taxa média do cheque especial é a menor desde julho do ano passado.
A correlação entre a Selic e o juro do crédito foi medida em um estudo econométrico conduzido pela Felisoni Consultores Associados com base na série histórica do Banco Central. A pesquisa aponta que, a cada redução de um ponto percentual feita pelo Copom, os bancos respondem com um corte médio de 2,2 pontos.
Segundo Eduardo Terra, sócio da consultoria, essa transferência não se dá de forma imediata, ou seja, as instituições financeiras levam em média três meses para incorporar as reduções da Selic. Isso deve garantir mais cortes no custo do financiamento ao consumo nos próximos meses.
"A redução é gradual e acontece ao longo de três meses, em média. A tendência, portanto, ainda é de redução das taxas para o consumidor final", afirma. O estudo foi baseado em dados do BC, da Associação Comercial de São Paulo e do Ipea entre junho de 2000 e abril deste ano.
Ele lembra ainda que essa velocidade varia de acordo com outros fatores, como a ampliação dos prazos dos empréstimos e também do nível de atraso das carteiras de crédito. O estudo da Felisoni aponta que para cada aumento da inadimplência de 1% a taxa de juros real na ponta eleva-se em média 0,15%. Segundo Terra, nos períodos de alta dos atrasos, os bancos avaliam que o cenário é incerto e como resposta, as instituições elevam as provisões e mantêm os spreads em patamares elevados.
Por outro lado, a ampliação do número de parcelas também tem influência na capacidade de pagamento, melhorando a situação para os clientes. De acordo com a pesquisa, um aumento de 1% nos prazos, reduz a taxa média para o cliente em 0,32 ponto percentual. "O cenário hoje é queda de Selic e de aumento de prazos de pagamento por conta da recuperação de confiança. O único fator que ainda pode jogar a taxa para cima é a inadimplência, que ainda não estabilizou", pondera o sócio da Felisoni.
Para Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o nível atual da Selic não estimula aplicações em tesouraria por parte dos bancos, que terão de fomentar o crédito. Com isso, a expectativa é que ocorram reduções dos juros do crédito em patamares superiores às quedas da taxa básica.