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Recentemente me deparei com dados da Associação Brasileira das Operadoras de Microcrédito e Microfinanças (ABCRED), que apontam para um aumento de 18% da procura por microcrédito em todo o Brasil, durante o primeiro semestre de 2024. Em números mais objetivos, o levantamento mostrou que as instituições que atuam com microcrédito produtivo orientado liberaram R$ 566,83 milhões nos seis primeiros meses deste ano, contra R$ 479,97 milhões do primeiro semestre de 2023.
A positiva relevância deste cenário é reforçada quando entendemos quem são os principais tomadores desse crédito. No caso, tomadoras. Em outro levantamento recente que realizamos no Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos (Ceape Brasil), observamos que as mulheres respondem por cerca de 60% do volume total concedido.
Ou seja, aquela mãe de família, que cuida dos filhos sozinha, sem apoio algum, ao conseguir recursos por meio do microcrédito, consegue montar um pequeno negócio e obter renda para manter sua família. Com isso, mostramos que a formalização é o passo seguinte. É quando a evolução social proporcionada pelo acesso ao crédito começa a gerar vantagens para a sociedade como um todo, já que ao se formalizar, passa a recolher impostos e a manter funcionários, se for o caso, devidamente registrados.
Acredito que, em pleno 2024, não é mais necessário reforçarmos a importância desse tipo de incentivo diante de uma sociedade patriarcal – e mais especificamente de um País – onde a desigualdade em termos de oportunidades e liberdade financeira impera.
O grande porém está no cuidado crucial, a meu ver, para que essa concessão não se torne um tiro no pé dos pequenos empreendedores, principalmente de quem está na informalidade: a necessidade de aliar educação financeira aos gestores desses micronegócios. Sem ela, este pode, infelizmente, endividar aquelas pessoas que já se encontram em situação de vulnerabilidade social e financeira.
Como o próprio nome sugere, o microcrédito produtivo orientado tem o intuito de fornecer educação financeira ao empreendedor de forma que ele possa não apenas ampliar seu negócio, mas também torná-lo sustentável ao longo do tempo.
Acontece que o microcrédito de diversas instituições comerciais tem um viés de consumo. É um CDC (Crédito Direto ao Consumidor) adaptado, e isso pode ser prejudicial ao longo do tempo.
Defendemos a necessidade urgente de educar financeiramente para que estes microempreendimentos cresçam, gerem mais renda e emprego e ajudem no desenvolvimento econômico.
Afinal, o microcrédito oferece a chance de empreendedorismo para aqueles que, muitas vezes, foram forçados a essa jornada por falta de oportunidades formais de emprego. Estamos falando das classes C, D e E, que compõem a base da pirâmide econômica.
A estas, precisamos oferecer um caminho para um bom e próspero futuro. E não as deixar presas às dificuldades impostas pela desigualdade durante o presente e, principalmente, no passado.
(*) Claudia Cisneiros é diretora executiva do Ceape Brasil