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Quem não se emocionou quando David Luiz, aos prantos, declarou ter visto frustrado seu desejo de apenas dar uma alegria a mais ao tão sofrido povo brasileiro, após o terrível 7 a 1 imposto pelos alemães ao Brasil na semifinal da Copa?
Peço então licença ao craque, um dos mais queridos da seleção - tanto pela sua atuação nos gramados, quanto a pessoa que já demonstrou ser fora deles - para sugerir-lhe algumas atitudes capazes de ainda contribuir em muito para a realização do seu sonho.
Por que não utilizar seus indiscutíveis carisma e liderança de ídolo para iniciar uma campanha fortalecendo o voto consciente em nosso país? Mostrar, enfim, que políticos “ficha-suja” entristecem e envergonham muito mais do qualquer goleada?
E que tal unir seus pares em torno da educação? Criar uma fundação que ajudasse as crianças a aprender mais, inclusive sobre esportes e artes, como forma de ganhar as muitas partidas decisivas que certamente ainda terão pela frente?
A influência e a imagem deles, por mais combalidas que possam estar neste momento, em breve seriam inestimáveis em ações como estas. Bastaria que doassem – ao invés de grandes somas – apenas um pouco de seu também precioso tempo.
Imaginem o impacto positivo provocado por um sem número de famílias vendo seus filhos receber educação e formação de qualidade. E quantos adolescentes deixariam de entrar no mundo das drogas e da violência, graças ao espaço maior ocupado pela educação em suas vidas?
Igualmente positivo seria mostrar ao povo que o nosso sistema tributário só favorece mesmo a corrupção e a concentração de renda. Que, proporcionalmente, um jogador de futebol mediano, ganhando seus R$ 150 mil por mês, paga menos impostos que uma família com renda mensal de R$ 5mil. Muito menos, diga-se de passagem, graças ao efeito regressivo de uma tributação como a brasileira, erroneamente baseada em consumo.
Isso tudo sem falar na nossa surreal complexidade neste mesmo setor, benéfica apenas para os maus políticos, sempre ávidos em favorecer determinados segmentos econômicos, em troca de financiamento para as suas campanhas. Jogadas terríveis, sem dúvida, que desde 2002 nos garantem sucessivos títulos mundiais em custo de conformidade fiscal e trabalhista. Adivinhe quem paga a conta de tanta burocracia?
E o que dizer da saúde, um dos muitos campos nos quais o Brasil vem fazendo feio todos os dias, com a longa espera por exames e tratamentos de todo tipo, gente atendida em cadeiras, macas e bancos nos corredores apinhados dos hospitais públicos?
Pois é, David Luiz, jogar futebol não é a única forma de você e seus colegas trazerem mais alegria a uma torcida fanática de 200 milhões e tão carente de bons exemplos, sobretudo para escalar melhor a cada convocação que fizer nas urnas.
O Brasil já sentiu cinco vezes o gostinho de ser campeão mundial do seu esporte favorito. Ganhar mais um título dificilmente traria alguma sensação inédita, afora o fato de ser dentro de casa. O mesmo, porém, não se poderá dizer no dia em que estivermos ao menos entre os quatro melhores do mundo, mas naquilo que realmente importa para o orgulho e a felicidade duradoura de uma nação.
(*) Roberto Dias Duarte é empresário do setor contábil, escritor, professor e palestrante